Jovens que estudam e trabalham têm melhores habilidades de leitura

Por Comunicação

03.09.2025 | Atualizado: 03.09.2025
Jovens que estudam e trabalham têm melhores habilidades de leitura

Estudo mostra a correlação entre a melhora dos níveis de alfabetismo e o acesso ao mercado, para o jovens de 15 a 29 anos

No país, a escolaridade é o principal indutor da elevação do nível de alfabetismo, mas não é o único. Segundo o Indicador de Analfabetismo Funcional (Inaf), em 2024, para os jovens de 15 a 29 anos a inserção no mercado de trabalho melhora os níveis de leitura, especialmente durante o estudo formal. A pesquisa aponta que 65% dos jovens que estudam e trabalham têm condições de alfabetismo adequadas, sendo que a proficiência cai para 36% entre aqueles que não estudam nem trabalham; e representa 43% entre aqueles que somente estudam e 45% entre os que somente trabalham. Atualmente, 16% dos jovens de 15 a 29 anos conciliam trabalho e estudo, sendo a parcela com melhores índices de alfabetismo.

“Percebemos que o trabalho presencial também é uma oportunidade de aprendizado. É no trabalho que você convive com alguém que sabe mais que você, que tem um processo, um método, um caminho. Aí, há um colega que te ajuda, alguém que você ajuda e sabe mais do que ele, isso tudo são exercícios que te auxiliam a desenvolver habilidades de vários tipos, inclusive essas que a gente mede, que são de leitura, escrita e matemática. O trabalho, o não presencial, remoto, ou até o não trabalho, porque muita gente não conseguiu dar continuidade às suas ocupações, também limitaram essa possibilidade de desenvolvimento”, diz Ana Lima, coordenadora do estudo.

Para a pesquisadora, os jovens com a capacidade de leitura consolidada têm uma maior inserção no mercado de trabalho; e por outro lado, aqueles que ainda não têm esse nível de leitura e passam a frequentar ambientes laborais, tendem a melhorar sensivelmente as habilidades nesse quesito. No entanto, Ana Lima considera que esse avanço ainda não é o necessário para as exigências do mercado de trabalho.

“A escolarização dessas pessoas é bem maior do que a geração anterior, e esse jovem está melhor qualificado do que estava na década passada, na geração passada. Ainda assim, ele chega com muitas limitações para atuar num mercado de trabalho cada vez mais sofisticado, que quer mais tecnologia. Esse avanço é insuficiente para atender à qualificação que o empregador espera e para trazer a realização que o trabalhador espera, pois ele também investiu mais tempo nos estudos. Há frustrações dos dois lados”, avalia Ana Lima. 

No entanto, não é qualquer tipo de trabalho que favorece o desenvolvimento profissional e pessoal dos jovens. A maioria dos que trabalham no serviço doméstico são pouco alfabetizados: 19% são analfabetos funcionais* e 46% estão no nível elementar de alfabetização**. Vale destacar que 53% daqueles que são empregados do setor privado têm alfabetismo consolidado***.

O Inaf está em sua 11ª edição e desde 2001 mede os níveis de alfabetismo funcional da população brasileira de 15 a 64 anos. O estudo é realizado pela Ação Educativa e a consultoria Conhecimento Social e co-realizado pela Fundação Itaú, em parceria com a Fundação Roberto Marinho, Instituto Unibanco, UNESCO e UNICEF. Na última edição, para mapear as habilidades de leitura, escrita e matemática dos brasileiros, foram ouvidas 2.554 pessoas entre dezembro de 2024 e fevereiro de 2025, em todas as regiões do país. A margem de erro varia entre dois e três pontos percentuais.

Confira os principais resultados do Inaf 2024.


*O indicador classifica como analfabetismo funcional a incapacidade de entender textos mais longos e complexos, números maiores, e de realizar tarefas com base na escrita e leitura. 

**Tem condição de comparar e relacionar informações numéricas ou textuais expressas em gráficos ou tabelas simples envolvendo situações de contexto cotidiano doméstico ou social. Consegue realizar tarefas da vida social mais básicas que requeiram o uso de ferramentas digitais.

***Localiza informação expressa de forma explícita ou não em textos diversos (jornalístico e/ou científico) realizando pequenas inferências. Ele também está apto a resolver problemas matemáticos envolvendo porcentagem e proporção, que exigem critérios de seleção, elaboração e controle. Interpreta e elabora síntese de textos diversos (narrativos, jornalísticos ou científicos), relacionando regras com casos particulares, reconhece evidências e argumentos e confronta a moral da história com a própria opinião ou com o senso comum.


Com informações da Agência Brasil, Correio Braziliense, G1 e o blog Visão do Corre.
Foto: 
André Gomes de Melo/Rio Solidário/Flickr