O primeiro dia de Angélica na escola brasileira
Depois de nove meses no país, Angélica retomou os estudos graças à estratégia do UNICEF, Súper Panas, nos abrigos humanitários para refugiados e migrantes em Roraima
O sinal que alerta os estudantes que a aula vai começar soa. São 13h30, e crianças e adolescentes caminham para a sala de aula. Aqui, a conversa nos corredores soa diferente. A mistura dos dialetos em português, espanhol e um “portunhol” arriscado fazem parte do clima escolar da 13 de Setembro, escola estadual da zona sul de Boa Vista, capital de Roraima, estado brasileiro que recebe o fluxo migratório venezuelano.
É neste cenário que Angélica Girón, de 15 anos, entra pela primeira vez em uma escola depois de nove meses de sua chegada ao Brasil, “É diferente porque os professores falam português, e grande parte dos alunos fala espanhol. Mas se preocupam se estou entendendo ou não, então falam devagar”, conta.
Angélica é a segunda filha de oito irmãos e, apesar de todos os irmãos migrarem ao Brasil junto à mãe, ela confessa que mudar de país não estava entre os seus planos. Ela havia ficado na Venezuela e morou com a avó, mas a saudade apertou e a menina veio a Roraima. Na fronteira, sua mãe a esperava para levá-la a Boa Vista, capital do estado e onde fica o Rondon 1, o maior abrigo da América Latina e agora lar da família.
Angélica é uma figura conhecida no abrigo humanitário em que vive. Extrovertida, brincalhona e tagarela, virou amiga dos professores e monitores do Súper Panas, espaço amigável à infância que o UNICEF e parceiros mantêm nos abrigos. Os espaços, além de oferecer atividades educativas e de apoio psicossocial, também apoiam nas matrículas de crianças e adolescentes na rede formal de educação, iniciativa desenvolvida pelo UNICEF que apoia os governos na identificação, registro, controle e acompanhamento de crianças e adolescentes que estão fora da escola ou em risco de evasão e que em 2023, em Roraima, ajudou a identificar e matricular 2.300 crianças e adolescentes migrantes que moram nos abrigos da Operação Acolhida e que estavam fora da escola.
Foi no Súper Panas que Angélica e sua mãe, Reina Villanueva, de 35 anos, receberam informações sobre como funciona a educação no país, quais documentos levar e quais eram as escolas mais próximas de onde vivem.
“Fizemos cópias dos documentos necessários, recebemos orientação e fomos até a Escola 13 de Setembro, que é onde eu estudo hoje. Fomos recebidos muito bem, consegui me inscrever e, na semana seguinte, já estava indo para a escola”, diz a adolescente, entusiasmada.
Angélica conta que chegou ao abrigo em junho, e apenas em dezembro conseguiu organizar a sua documentação no Brasil e por isso perdeu o ano escolar. Mas quando soube, em janeiro de 2024, através de um dos monitores do Súper Panas, que as matrículas para o novo ano estavam abertas, ela e sua mãe tomaram a iniciativa de retomar os estudos. Agora, ela está em uma turma de correção de fluxo escolar, com outros adolescentes que apresentam a chamada distorção idade-série, iniciando uma nova trajetória de sucesso educacional.
A mãe de Angélica se emociona ao falar da educação da filha. Ela destaca que a vinda ao Brasil teve como finalidade principal garantir que seus filhos tivessem o direito de ir à escola.
“Tomamos a decisão de migrar para que eles tenham um futuro. Todos os meus filhos estão indo para a escola aqui no Brasil, e eu não poderia estar mais feliz. Ela chega à noite e conta sobre sua tarde, como está se adaptando na escola e como está gostando dos professores”, evidencia.
Estas iniciativas são possíveis com o apoio financeiro do Governo dos Estados Unidos e da União Europeia, por meio do Escritório para População, Refugiados e Migração do Departamento de Estado dos Estados Unidos (PRM, na sigla em inglês) e do Departamento de Proteção Civil e Ajuda Humanitária da União Europeia (ECHO, na sigla em inglês).
Texto: UNICEF Brasil
Imagens: Katarine Almeida / UNICEF Brasil