A escola encontrou e acolheu Pedro

Por UNICEF Brasile

11.06.2021
A escola encontrou e acolheu Pedro

Pedro Gabriel foi encontrado pela Busca Ativa Escolar em 2018, e conseguiu manter o vínculo com a escola mesmo na pandemia


A história de Pedro Gabriel é de muita superação. O adolescente de 16 anos foi adotado pela mãe aos 7 anos, e tentou várias vezes ir à escola. A mãe procurou escolas para que o menino pudesse se integrar, mas sempre teve dificuldades. Pedro possui déficit de aprendizagem, além de autismo e bipolaridade. Ele passou por escolas particulares e públicas, mas não conseguia se adaptar. Tudo isso resultou em que o menino acabasse ficando fora da escola.

“Aí a Busca Ativa encontrou ele aqui e levou para a [Escola Municipal] Rubem Amorim Araújo,” relembra a mãe, Nélia Martins. Depois de um ano sem estudar, a equipe da Busca Ativa Escolar de Petrolina, município em Pernambuco onde mora a família, bateu à porta do menino, e adotou como missão buscar uma escola onde Pedro teria atendimento especial, e ele foi rematriculado.

Foto mostra um adolescente de máscara ao lado de sua professora, também usando máscara
Arquivo pessoal
Pedro e a professora Rosário durante visita do estudante à escola para buscar as atividades impressas.

De cara, o menino se adaptou. A escola, que vai da educação infantil ao ensino fundamental I, recebeu Pedro há três anos, e ele pôde começar a cursar o terceiro ano. Aos poucos, ele foi aprendendo as letras, os números, e acompanhando, no seu ritmo, os assuntos na sala de aula. A professora de Atendimento Educacional Especializado (AEE) Rosário Martins acompanha o menino desde que chegou à escola. Toda semana, eles tinham um encontro marcado para realizar atividades também fora da sala. “Na escola ele fazia as atividades todas adaptadas, a professora dava apoio e ele tinha um auxiliar. Eu o atendia uma vez por semana, também acompanhava no recreio”, explica a educadora. Assim como ele, cerca de 30 estudantes da escola são atendidos pelo AEE.

Pedro Gabriel passou a amar a escola. “Ele é um dos alunos mais apaixonantes, porque ele é muito carinhoso, ele ama a escola”, diz Rosário. Depois de três anos estudando, uma nova mudança na rotina chegou para desafiar Pedro, e tantos estudantes e professores: a pandemia da Covid-19.

Foto mostra um adolescente tendo aulas pelo celular. Em cima da mesa há várias letras de plástico.
UNICEF/BRZ/Jonas Santos
Pedro tem aulas pelo celular com a professora Rosário durante a pandemia.


Mais um obstáculo superado
Quando chegou a pandemia, todos tiveram que se readaptar. Professores e estudantes passaram para o ensino remoto, que tem funcionado em Petrolina tanto com atividades online quanto com atividades impressas. A saudade da escola começou a tomar conta e os pedidos de Pedro de ir à escola eram cada vez mais frequentes. “A princípio ele não quis [ficar em casa], ele queria era ir para a escola. Na hora em que era para ir, dizia que ia tomar banho, e me perguntava porque não podia. No começo ele não aceitava, era muita conversa para ele entender”, conta a mãe.

Agora, Pedro já está no quinto ano, mas com as aulas online, o menino não conseguiu participar integralmente das atividades da sua turma. Mas isso não foi motivo para que perdesse o vínculo com a escola. Durante este período, a professora Rosário tem se dedicado para que ele tenha aulas online uma vez na semana, e tenha acesso ao caderno de atividades durante o mês inteiro. Além disso, o contato com a mãe de Pedro tem sido mais frequente ainda. “Ela manda as tarefas, eu pego na escola, há provas. Na aula de hoje, por exemplo, ela mandou fazer um jogo, e mandar as fotos para ver o que ele aprendeu”, explica Nélia.

“Nós trabalhamos de diversas formas, histórias, vídeos, sempre faço atividades online pra ver o nível de aprendizagem, brincadeiras, por uma chamada no WhatsApp”, completa Rosário. No começo de cada mês, a professora também prepara uma apostila de atividades especializadas para Pedro, de acordo com suas necessidades de aprendizagem, e entrega de forma impressa para ser feitas em casa.

Assim, Pedro tem conseguido se manter aprendendo. Outras dificuldades como a própria conexão à internet, ou dias em que o menino se sente melhor para fazer as chamadas com a professora, têm sido pouco a pouco superadas durante o tempo de ensino remoto. Para Rosário, investir na educação do menino, ajudá-lo a seguir aprendendo e se desenvolvendo é um trabalho essencial e, claro, gratificante. “Vale a pena a gente investir na educação, porque é a base de tudo, e principalmente trabalhar com amor”, diz Rosário.

Foto mostra uma mulher sorridente fazendo um carinho no filho adolescente, que está com a cabeça no ombro dela.
UNICEF/BRZ/Jonas Santos

Depois de ter passado por tantas dificuldades para manter o filho aprendendo, Nélia também se sente feliz por ele ter sido encontrado pela Busca Ativa e conseguido uma escola para o menino. “O pessoal é muito gente boa, fui muito bem acolhida. As professoras sempre ligam pra saber como ele está, conversam um pouco com ele, dão uma assistência muito boa. Fiquei muito feliz com elas, eu nunca esperava por isso”, diz a mãe. “Ele graças a Deus agora está melhor, depois de ter passado por muitas dificuldades. A escola ajudou muito. Nunca tive problema, e estamos aqui nessa luta. Vivendo um dia de cada vez”, completa Nélia.

Busca Ativa em Petrolina 
Pedro Gabriel é um dos mais de 1.500 estudantes rematriculados pela Busca Ativa no município de Petrolina. Atuando desde 2018, o caso do menino foi um dos primeiros que a equipe do município encontrou. O alerta veio por meio de uma gestora escolar, que, naquele momento, conheceu a estratégia e levou a situação à equipe. Depois do esforço para rematricular Pedro, a equipe segue realizando, a cada dois meses, o acompanhamento do caso para certificar que ele continua estudando.

“Quando fomos visitar a escola e vimos o interesse dele, eu acreditei que a gente tinha potencial pra fazer diferenças significativas na vida das pessoas que mais precisam”, relembra a coordenadora de Busca Ativa Escolar no município, Nara Itla. “É como se a gente tivesse trazido Pedro Gabriel para a vida de novo”, completa, emocionada.

Com a pandemia, a equipe também precisou se readaptar para chegar até cada criança e adolescente fora da escola. Antes, as buscas de estudantes envolviam a visita à casa das famílias, mas agora os telefonemas e mensagens fazem parte da rotina. O trabalho na pandemia foi feito atualizando os cadastros de estudantes que já estavam matriculados na plataforma, realizando o contato com as familias, e identificando aqueles que estavam de fora principalmente por meio da distribuição dos kits pedagógicos disponibilizados pelas escolas. Os estudantes que não buscavam os kits tiveram um acompanhamento da equipe para prevenir a evasão e manter o vínculo dos meninos e meninas de Petrolina com a escola.

Os desafios são muitos, e a situação de muitos estudantes foi agravada pela pandemia. Mas Nara acredita que a Busca Ativa Escolar é uma das grandes ferramentas para promover o direito à educação no seu município. “Enquanto a gente não vir esses meninos identificados, com uma visão mais de perto deles, eu não fico satisfeita!”, conclui.


Fonte: UNICEF Brasil
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